sexta-feira, novembro 18, 2005

“Todo dia ela faz tudo sempre igual…”, pois é Chico (Buarque), todo dia, correndo, atrasada, com duas Bonos de morango na mão esquerda e o Nietzsche na direita (com qual mão dar bom dia ao porteiro? Use a cabeça, literalmente!).

“Correr” dois quarteirões já é o suficiente para engolir as bolachas. Paro no sinaleiro (sim, não é farol, farol é de carro), agora tem que ficar esperando fechar para poder correr atrás do ônibus – esse corredor... É tão relaxante ver passarem seus ônibus e você não poder “dar sinal” para parar porque está do outro lado da rua e o sinaleiro nunca fecha... Depois de passar todos os que me servem, o homenzinho verde acende e os mocinhos com a bandeira de PARE ficam lá, “parando” os carros – como se ISSO é que fizesse eles pararem. Gostaria de um dia ver eles tentarem colocar a bandeirinha antes do sinal fechar... seria lindo...

Depois de horas esperando, chega o meu “busão” e penso: vou me sentar, ler meu livro... ha ha ha... sentar? Onde? Ficar em pé sim, bem atrás daquele rapaz com uma mochila gigante nas costas que fica te empurrando contra o outro banco cada vez que o ônibus faz uma curva. Então, o “busão” passa pelo ponto e não abre a porta, aí vem a sinfonia: “VAI DESCÊ MOTORISTA!”...
Uma etapa cumprida (e comprida): finalmente o metrô. Agora sim, menos empurra-empurra, menos malabarismos (já chega os das esquinas). Estação inicial é uma marvilha, finalmente posso me sentar e ler meu Nietzsche – “como filosofar com o martelo” – um subtítulo que veio a calhar (que vontade de quebrar tudo com um martelo). Mas o mais interessante ainda é como o livro começa: “Conservar a sua serenidade frente a algo sombrio, que requer responsabilidade além de toda a medida, não é algo que exige pouca habilidade.” – não mesmo, requer muuuuuuuuita habilidade.

“Piiiiiiii!!! Sta... ção... Kkk… on… sssção…”, pobres coitados os que dependem desta voz para saber em qual estação o trem vai parar. Todos descem na Consolação, isso é bom, não preciso desbravar o mar de corpos pra sair antes que a porta feche no braço ou no pé que ficou pra trás. Mesmo assim, achou que estaria livre, mocinha? NÃO! TODOS MESMO descem nessa estação e só tem duas escadas rolantes pra TODO MUNDO, e uma não rolante que, se você subir correndo, VOCÊ passa a ser uma rolante. Tudo bem, pra não ser atropelada, a gente espera (ai... cadê esse martelo...).

Ufa... saí do “bafo subterrâneo”. A calçada da Paulista é como a marginal em horário de pico. Às vezes, a gente tem que pular pra frente pra ver se consegue ultrapassar o fluxo humano que vem e pegar carona no que vai (uma das técnicas quando não se tem o tal martelo). Quando o fluxo desacelera já é possível olhar para cima, ver os prédios iluminados pelo sol e pelo som dos carros e as eternas buzinadas, dá até pra ver o homem limpando o prédio espelhado, misturando-se com o azul do céu e dos vidros.
Caminhando em meio ao som da São Paulo agitada, um barulho atípico me captura no meio ao caos. Sim, uma bela combinação de de um acordeão, um triângulo e um tamborim. Dois senhores e um rapaz, em plena 9h na Av. Paulista. Todo o som agitado foi anulado por aquela melodia que mais parecia brincar na calçada, tentando encher o chapéu de moedas.
Fiquei emocionada... mesmo. Meus dentes travados se soltaram e até ameaçaram um sorriso.
Já quase andando de costas (sem trombar em ninguém... incrível...), fui sentindo a melodia sumir, devagarinho, a se misturar às buzinas novamente. Depois, tudo voltou ao normal (normal?). Bom, ao menos, não foi tão “tudo sempre igual” assim...

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