sexta-feira, novembro 18, 2005

O grande salto

Sob os olhos, somente o vazio cercado por janelas em arquibancadas, indiferentes à minha decisão. Fracas, petulantes, enquanto eu caminhava de um lado para o outro elas disputavam decisões e caminhos a serem seguidos. Agora que estou aqui, pronta para desistir de tudo, elas ficam assim, imóveis, olhando-me pateticamente.

As luzes lá em baixo são apenas pontinhos luminosos, tão pequenos que não consigo ver o asfalto como o fim. Tudo se mistura. O vento sobe forte desse vazio negro, gelado. Bate em meu rosto me chamando para seu cerne silencioso. Nesse instante parecemos ter o mesmo cerne, e mais nada dentro de mim, a não ser minha decisão.
Sim, desta vez nada vai me impedir, nem mesmo o suor das minhas mãos ou as lágrimas duras que se deitam sobre mim. Já chega! O fim me chama há muito, agora é a hora... eu sinto. A respiração acelera, o estômago se contorce louco para saltar, o sangue ferve e tensiona todo o meu corpo, empurrando minha alma pela garganta, as lágrimas fogem por todos os lados e me salgam por inteira. São as primeiras a saltar, sumindo na escuridão. O vento volta a me puxar e me desfaço em seus braços.

Meu corpo pesa em direção ao fim, aos pontinhos luminosos, ao vazio do meu cerne. Estou voando para o fundo. Ao meu redor vejo “flashes” de cenas, uma em cada buraco na parede do vazio que vou percorrendo. O sol brilha trazendo pontas de dedos e gargalhadas de desconhecidos. Traz pedaços dos meus fracassos em vidros de papelão molhado que vão se desfazendo entre os raios de sol que me ofuscam o olhar, que me sufocam e me comprimem na minha escuridão. As gargalhadas não param, ficam cada vez mais fortes, unem-se num único grito assustador que me faz abrir os olhos secos, com braços de lágrimas melados. Só então percebo que é meu corpo gritando o desespero e o arrependimento. Passo por um grande ponto luminoso na escuridão e já posso ver o f...

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