sábado, novembro 17, 2007

Mistérios da alma

As almas quando soltas no ar deixam rastros e se fazem entrelaçar facilmente.
Ficam claras em qualquer canto e pensam pertencer ao mundo. São frágeis, mas se fortalecem quando preciso.
Força que às vezes vem de dentro, força que muitas vezes vem de outra que cruza seu caminho, a força de identificação.
O melhor que a liberdade da alma tras é a certeza de que muitas coisas existem fora do seu universo. É ver que muitas dessas coisas fazem as outras já antigas e supostamente essenciais parecerem ligeiramente bem menos relevantes.
A liberdade da alma te faz se sentir entregue ao mundo, aos seus encantos, às suas surpresas, às suas dificuldades. Às vezes ela se quebra e você quer voltar pra dentro, rápido, dane-se todo o resto. E quando percebe que isso é apenas um ruidozinho na imensidão do mundo, que nem eco faz, você abre os olhos e vê que não faz diferença se apavorar. Porque, assim como a alma é livre, os acasos também o são. E então, a única coisa que tem a fazer é esperar a calmaria para desmisturar as liberdades. Mas isso sempre se repete, o desespero não é condicionável, muito menos controlável, ele também é livre.

27/09/07
(Salzburg - Áustria)

Paradoxo fotográfico

Fotografar... fotografar... fotografar... todo o novo, todo o belo, tudo no mundo descoberto...
Não! Preciso buscar as imagens que saem da minha alma, mais do que as que estão na minha frente.
Não quero viver das fotos, mas do real momento que transcorre a cada segundo de um sonho grande e velho.
Ele parece menor por se tornar realidade, mas não posso deixá-lo perder o encanto.

20/09/07
(Siena - Itália)
Quero dedicar este pôr-do-sol
aos seus olhos calmos,
à sua boca macia,
à sua pele suave,
ao seu cheiro intenso,
à sua alma saudosa.

Este pôr-do-sol que é só nosso,
de clima estrangeiro,
como o que sentimos vez ou outra.

À beira de um rio que cheira a outono,
guardo-o quente no meu peito
e entrego a você agora
esta eterna sensação
de intensidade e beleza,
dourada, livre, imensa,
que sopra forte e leve
como o nosso amor.

20/09/07
(Siena - Itália)
Florença...
parece ser feita de mármore rosa ao pôr-do-sol.
O vento europeu bateu nos meus olhos que esperam pelo pôr-do-sol para o último clique.
Bateu nas fileiras de postes de luz às margens do Arno. Bateu num só sopro nas pombas que saltam da ponte para o ar num único e suave movimento. Bateu contra o fluxo do rio e seus remadores. Bateu nas janelas e nas cortinas a lamberem o ar. Bateu nos sons de sinos de bicicletas que voltam pra casa.
Bateu na minha alma, sentada entre a fileira de postes de luz, e a arrastou pela imensidão do vale.

19/09/07
(às margens do Arno - Pisa - Itália)

Na estação

A voz metálica avisa a próxima partida. Os bancos de madeira (parecem de igreja) rangem ao ficarem mais vazios. A luz continua pouca apesar de o sol se elevar mais. Uma fileira de pernas cruzadas sobre o ladrilho, por vezes cai uma ou outra com o sono. De longe chega o emaranhado de sons: línguas diversas de homens, mulheres e crianças, xícaras e colheres se ajeitando sobre os pires ainda molhados... entram ecoando direto ao teto alto, pintado de folhas, mulheres e anjos com uma faixa "AVGVSTA PERUSIA".
E o trem chega cortando esta nuvem de sons e gente, com o apito dos freios e o clássico "turum" das rodas nos trilhos. Ele bufa! Mas ainda não é o meu.

16/09/07
(estação ferroviária - Perugia - Itália)

sábado, novembro 03, 2007

Eu?
Quiçá uma alma perdida no mundo dos sonhos dispersos.