quarta-feira, dezembro 27, 2006

Deus!
Dê-me um coração de pedra...
Rápido!!!

Paralisia

Sabe do sonho
do sono insensato
que segura meus passos?
Justo aquele passo
do pé em transe
querendo pisar,
empurrar o chão pra trás.
O sinal está aberto...
Então o sol derreteu a sola?
Não, é o peso mesmo...
o peso do meu corpo
que anula irresistivelmente
o controle sobre meus própios pés
e depois ainda tenta,
por vezes com um sucesso falso,
me pôr sentada num canto qualquer.


(26/12/06)

quarta-feira, novembro 29, 2006

História

"É uma história curiosa a que lhe vou contar, minha prima. Mas é uma história, e não um romance." (José de Alencar, em Cinco Minutos).

O chuveiro elétrico do vizinho? Não, é a chuva se atirando pesada do céu, rasgando o vidro entre seus olhos e o mudo lá fora.
A lâmpada do poste de luz se queimando? Não, é a lua sendo encoberta, vezes por nuvens grossas, vezes pela árvore dançando ao vento.
O cheiro da Dama da Noite? Não, é o perfume da grama abafada que se refresca e se transforma em aroma de verão.
O pensamento estático na adivinhação do clima (será que chove amanhã?)? Não, é o olhar solto no ar, arrastado por memórias lentas.

Mas, como disse, é só uma história...

Faço dela um romance só pra enfeitar os tempos... e minha alma...

sexta-feira, novembro 03, 2006

Sabe quando vem aquela ânsia? Aquela vontade de dizer algo, de escrever algo... algo que vai esvaziar a garganta... mas cadê? Pra onde vão essas safadas? Essas palavras fugidias, arredias, sem compaixão?

Pela manhã, ouvindo música, eis que elas aparecem na voz de outra: "se eu pudesse roubar as gotas de luar". Hm, aí estão elas... trazendo a sensação presa no meu peito. Gotas de luar, umidez da noite que me ronda. Eu sei, umidez não existe, mas é o que mais se encaixa. Ronda os pensamentos mais distantes no tempo. Distantes não de mim, mas de hoje. Pensamentos que me confortam, acalentam, tiram sorrisos do coração, pelo simples fato de serem simples e próximos. Próximos como a umidade desta mesma noite.

sábado, junho 17, 2006

As lágrimas sempre me pegam na solidão. E penso se elas realmente têm que acontecer. Se elas realmente podem cair. Se elas realmente têm porque cair.
Minha solidão traz a elas liberdade. Ficam completamente à vontade...

Quero minha solidão de volta, não quero dividí-la com lágrimas...
Conto os ladrilhos... mas elas se poem a contar comigo, numa camaradagem insuportável. Tão insuportável que chega a enjoar.

E de novo me pego a pensar se elas realmente devem ficar.
A resposta? É não pensar, ou ao menos tentar.
Uma eterna briga, tão inútil quanto irresistível.

domingo, junho 04, 2006

Corro pela estrada nessa noite fresca. O cheiro do vento me faz querer jogar meu coro na grama. Faz minha pele pedir pelo contato úmido do chão, me faz querer ser filha da terra, sentir todo o meu corpo pesar sobre a superfície bruta, as mãos afundarem no mato - sentir a grama pinicar a palma da mão e depois se dobrar sobre e sob meus dedos.
Preciso agora do calor frio da terra, do ar da noite que vira dia, do silêncio morno que me alimenta de lembranças, que me faz sentir quem sou, só preciso sentir quem sou. Sentir fisicamente o mundo em mim, eu no mundo, ser tocada por ele pra ter a certeza da minha existência, pra ter o peso da segurança.
Encosto o rosto no chão, sinto a sincronia do coração da terra com o meu. Sinto que estou viva.

domingo, abril 09, 2006

"Torna-te quem tu és" - Nietzsche

Hm! Isso talvez seja um longo camiho... talvez inalcançável... ou mesmo invisível... ou ainda, repugnado...

sábado, abril 01, 2006

Explosões III

Colhei os fios que movem meus ossos, atai-os uns aos outros num nó eterno e me terás no mais absoluto desterro.

sexta-feira, março 31, 2006

Explosões II

Se um dia eu souber de mim, liberte-me das correntes cravadas no lodo seco e cinza desta vã trajetória.

Explosões I

Mesmo que eu grite, mesmo que eu chore, mesmo que eu me cale, o vento ainda arrastará meus desejos e vai misturá-los ainda mais no pavor de céus desconhecidos.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Não vejo ainda uma clareza, mas o ar opaco já posso tragar com mais calma, sem que me sufoque a garganta.
E minha mente já pode parar de atacar o corpo com golpes baixos e quase mortais para a alma.
As idéias ainda turvam minhas lágrimas, mas já não fazem arder os olhos.

sábado, janeiro 07, 2006

Cacos

"Não adianta chamar
quando alguém está perdido
procurando se encontrar."

Não sei se a questão é me encontrar. Sei onde estou, sempre em muitos lugares e, muitas vezes, ao mesmo tempo. E por escoar para tantos lados ao mesmo tempo, nunca estou inteira.

Mas o que é "eu inteira"? Se reconhecesse todos os pedaços, poderia colocar-me num único lugar, mesmo que não fosse o ideal, mas que fosse apenas um. Ou, pelo menos, um de cada vez.

Sei onde estão alguns pedaços, mas ainda faltam outros, escondidos em algum canto. Será que encontrarei? Preciso mesmo procurar? E se apenas esperar? Eles existem mesmo? Preciso mesmo encontrá-los ou os que vejo já são suficientes para me compor? Como saber se vou reconhecê-los se mal sei dos que vejo? Parecem cacos, não pedaços. Pedaços são inteiros quando juntos... cacos nunca voltam ao estado uno.

Talvez eu até conheça cada caco, cada estilhaço da minha alma. Talvez eu saiba onde está cada um, mas não os reúno por medo de ficar pesado demais, ou deformado, ou ainda, por saber que é impossível um ser inteiro e completo estar em muitos lugares ao mesmo tempo.